Entre insultos e a indiferença dos que a possuem,
Trocando prazer por dinheiro,
Esperando da vida o que ela lhe negara
Submissa à embriagante volúpia masculina
Alvo das taras enrustidas e fantasias machistas
Invadida por estranhos
Devorada sem afeto
Seu nojo reprimindo para o seu sustento garantir
Objeto do gozo alheio,
Sacrificando o próprio gozo
De tantos e de nenhum
Sempre a deparar-se com a solidão dos que nascem apenas pra servir
Margeando a sociedade como se dela não fosse parte
Ignorada depois do prazer como que sendo este seu único valor
Não faz distinção de beleza, humor ou comportamento – encara a todos com a mesma delicadeza de fêmea fornecedora.
Arlindo Cirino
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
nome das coisas
Edson Bueno de Camargo
1
aprender o nome das coisas
andar sobre o fogo
a medida que estas se criam
a criança traça o universo
com sua língua singela
portanto precisa
dando nome próprio
às coisas próprias
depois os mestres
lhes confrontam o que consideram errado
reprimindo um mundo novo
e em criação
recriando um velho e deformado
2
o verdadeiro nome das coisas
apreende-se à medida
que estas se criam
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Blogagem Coletiva “Abre Aspas Terceira Edição”
No dia 09 de novembro (uma segunda-feira – é claro) “abra aspas” no seu blog, escolhendo um poeta e uma poesia para deixar mais poética a blogosfera…
DE "OS MISTÉRIOS DO OFÍCIO"
de Anna Akhmátova
"De que servem exércitos de canções
e o encanto das elegias sentimentais?
Para mim, na poesia, tudo tem de ser desmesurado,
e não do jeito como todo mundo faz.
Se vocês soubessem de que lixeira
saem, desavergonhados, os versos,
como dente-de-leão que brota ao pé da cerca,
como a bardana ou o cogumelo.
Um grito que vem do coração, o cheiro fresco de alcatrão,
o bolor oculto na parede...
E, de repente, a poesia soa, calorosa, terna,
Para a minha e tua alegria."
Ana Akhmátova, pseudónimo de Ana Andreievna Gorenki nasceu nos arredores de Odessa em 1889 e faleceu nos arredores de Moscovo em 1966.
O último segundo
E se o telefone
tocar
E eu não tiver coragem de não atender?
Todas as esperanças serão mentira
Como sempre foram
Desde o primeiro dia,
Todas as loucuras
E instintos serão mais fortes
Que essa mente parcamente racional
E talvez eu encontre uma arma
Dentro de alguma gaveta.
tocar
E eu não tiver coragem de não atender?
Todas as esperanças serão mentira
Como sempre foram
Desde o primeiro dia,
Todas as loucuras
E instintos serão mais fortes
Que essa mente parcamente racional
E talvez eu encontre uma arma
Dentro de alguma gaveta.
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
mapa do mundo
Edson Bueno de Camargo
tomar tijolo por tijolo
a palavra
constrói arcos
perfeitos em sua simetria
o barro cozido
se confunde com a terra e o fogo
é o âmago do planeta
nas linhas do corpo
a pele é um mapa do mundo
inertes
Edson Bueno de Camargo
ensinei à água
que corre
contra a gravidade
o alfabeto das coisas inertes
esta tão leve
que
a luz não a toca
fica em suspensão
gotas elétricas
que buscam
a luz das estrelas
sempre é dia
de se voltar para casa
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
CORPO MEU
Leticia Brito
Entre curvas, minhas verdades
Na minha boca guardo a recordação de beijos
Que fizeram de mim a mulher que hoje sou
Ao passear com as mãos pelo meu corpo
Não tenho medo do que encontro
E espero encontrar mãos que também não temam
Seios pequenos e meus
Pele morena e minha
Corpo feminino e abafado dentro da minha tristeza.
Olhos cor de mel que tem por sentido
fitar o céu a procura
da pureza perdida na terra
Entre todos os vestigios de beleza feminina
Se esconde uma alma frágil e pequenina
A procura do abraço sincero de alguém
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Adormecidos
Leticia Brito
Quanto silêncio nesse bar...
Enquanto a juventude dança celebrando a vitória dos hormônios sobre os sentimentos eu, quieta num canto, ouço a musica e começo a me indagar: Quando foi mesmo que deixamos de amar?
Na verdade nunca nos arriscamos a sentir nada mais profundo do que um orgasmo de quinze minutos. Tudo ao meu redor é tão futil que eu gentilmente me entrego ao prazer da minha solidão.
Ao meu redor todos estão adormecidos, sinto como se estivesse dentro de uma casa de bonecas onde todos são belos e plastificados, onde as pessoas possuem a pele lisa e o coração duro. Como posso eu fugir desse mundo se dentro dele não existe presença de um alguém de carne que me estenda a mão?
O mal do século não é a solidão, o grande mau é a juventude que tão banal em seus costumes acredita que o amor é uma prisão, sem saber que na verdade ele é a forma mais pura de se encontrar a liberdade.
Enquanto eu reflito todos dançam ao meu redor e eu no meu canto, perdida neste bar, só posso me pensar: Eu deveria mesmo aprender beber.
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Brasil, meu anti-herói
Surrupiado desde o princípio
Eternamente surrupiado
Gigante pela própria natureza, porém, um rato pelo próprio caráter
Deitado eternamente, por não o deixarem levantar
Dos teus filhos que não fogem à luta, a maioria está cansada
– é uma luta sem trégua
Mãe pouco gentil tem sido com os filhos deste solo
– se lhes dá a liberdade, nega-lhes oportunidade
Deste mau exemplo e criaste o mau costume
Corrompe-se passivamente como uma puta
Reduz-se a dar-se por satisfeita com o “rouba, mas faz”
Tu que sempre dá um jeitinho em tudo, parece não ter jeito
Sua famigerada malandragem, é sua própria ruína
Negando a si mesmo o direito de ser respeitado,
Com indiferença os teus filhos tem tratado
Poema vertiginoso
Convivendo dia e noite com a agonia de ser o que não é
Como verme a rastejar, de podres restos se nutriu
Febril e desolado,
Pobre diabo se tornou
Entre a reluzente lucidez e o nebuloso e inquietante delírio
Sempre a trilhar a beira do abismo
A sentir-se culpado pelos erros não cometidos
Ao ostracismo condenado sabe lá por quem...
A pecar sem temor
A violar sem pudor
Na penumbra a tatear, pelo eu perdido a buscar
Em si mesmo retraído,
A sonhar com a imperfeição que o faria perfeito
Ruminando as perdidas chances que o desfrute a sorte lhe negara
Exilado de si mesmo,
De tudo duvidando,
Apostando em qualquer coisa
Como verme a rastejar, de podres restos se nutriu
Febril e desolado,
Pobre diabo se tornou
Entre a reluzente lucidez e o nebuloso e inquietante delírio
Sempre a trilhar a beira do abismo
A sentir-se culpado pelos erros não cometidos
Ao ostracismo condenado sabe lá por quem...
A pecar sem temor
A violar sem pudor
Na penumbra a tatear, pelo eu perdido a buscar
Em si mesmo retraído,
A sonhar com a imperfeição que o faria perfeito
Ruminando as perdidas chances que o desfrute a sorte lhe negara
Exilado de si mesmo,
De tudo duvidando,
Apostando em qualquer coisa
Solidão – a dor que mata
domingo, 13 de setembro de 2009
Remanso
Pequena e acanhada
Arrancada do seu berço
Jogada ao relento
À esquerda do velho pai
Pai violentado
Tão festiva quanto decadente
Orgulhosa da própria estupidez
Recorda-me Gregório de Matos – “Triste Bahia!”.
Bahia do lado de cá
Estagnada como o próprio nome sugere,
Culturalmente estagnada
De um sol intenso e de uma fisionomia imutável
Pouco ousada é sua gente
Catolicamente hipócrita
Hipocritamente católica
De uma classe média de novos-ricos, e politicagem oportunista.
Deste filho bastardo receba tão árdua contemplação
Arrancada do seu berço
Jogada ao relento
À esquerda do velho pai
Pai violentado
Tão festiva quanto decadente
Orgulhosa da própria estupidez
Recorda-me Gregório de Matos – “Triste Bahia!”.
Bahia do lado de cá
Estagnada como o próprio nome sugere,
Culturalmente estagnada
De um sol intenso e de uma fisionomia imutável
Pouco ousada é sua gente
Catolicamente hipócrita
Hipocritamente católica
De uma classe média de novos-ricos, e politicagem oportunista.
Deste filho bastardo receba tão árdua contemplação
Provinciano
Da aridez hostil brotou o cacto
Do cacto hostil brotaram poucas flores
Enfim, fez-se o homem forte.
Forte e curvado
Forte e arrebatado
Mira o futuro,
Mas o futuro se dispersa
Extrai de si mesmo a força que necessita
O pouco lhe basta
O excesso lhe sufoca
De aspecto agressivo
De conteúdo abundante
Criou-se da escassez,
Mas a ela não se conteve
Reciclou o sabugo
“Viajou na maionese”
Rompeu com o sagrado
Libertino libertado
Agridoce na essência
Move-lhe o tesão pelo desafio,
Pelo bizarro,
Pelo belo,
Pelo proibido
Do piegas nasceu o lascivo
Lapidou por si só o que tinha de tosco
Manteve tosco o que tinha de ser
Provinciano atrevido
Provinciano e decadente
Olhou para fora
Quis saber mais
Digeriu o proveitoso
Cuspiu as sobras
Vomitou o que havia sido imposto
Odiou a indiferença,
A hipocrisia repugnante
Sóbrio
Embriagado
Um pouco de Deus
Um tanto de Diabo
Tens o amor
Ama todas as cores,
Todas as formas – cada uma é especial,
Causam diferentes prazeres
Ardeu no ermo
Renasceu
Para si
Para o mundo
Respirou da secura do pó,
E do pó se fertilizou
Deu vida
Espantou a morte
Do cacto hostil brotaram poucas flores
Enfim, fez-se o homem forte.
Forte e curvado
Forte e arrebatado
Mira o futuro,
Mas o futuro se dispersa
Extrai de si mesmo a força que necessita
O pouco lhe basta
O excesso lhe sufoca
De aspecto agressivo
De conteúdo abundante
Criou-se da escassez,
Mas a ela não se conteve
Reciclou o sabugo
“Viajou na maionese”
Rompeu com o sagrado
Libertino libertado
Agridoce na essência
Move-lhe o tesão pelo desafio,
Pelo bizarro,
Pelo belo,
Pelo proibido
Do piegas nasceu o lascivo
Lapidou por si só o que tinha de tosco
Manteve tosco o que tinha de ser
Provinciano atrevido
Provinciano e decadente
Olhou para fora
Quis saber mais
Digeriu o proveitoso
Cuspiu as sobras
Vomitou o que havia sido imposto
Odiou a indiferença,
A hipocrisia repugnante
Sóbrio
Embriagado
Um pouco de Deus
Um tanto de Diabo
Tens o amor
Ama todas as cores,
Todas as formas – cada uma é especial,
Causam diferentes prazeres
Ardeu no ermo
Renasceu
Para si
Para o mundo
Respirou da secura do pó,
E do pó se fertilizou
Deu vida
Espantou a morte
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
SE
Leticia Brito
Se você me encontrar por ai, avise que estou com saudades de mim.
Peça para eu voltar para a casa, pois eu tenho a necessidade de me reencontrar.
Se for meu amigo não me fale da beleza fisica que posso possuir, me convide para passear num parque onde meus olhos vão poder brincar de observar. Só assim você vai poder ver a verdadeira beleza em mim, aquela de quem guarda nos olhos o encanto pela natureza que possui uma criança.
Convide-me para cantar ou mesmo caminhar pela tarde e vamos conversar sobre qualquer coisa que nos venha a cabeça, de livros a doces, de poemas a cores, de piadas a filosofia, só assim ressuscito a vida que em mim esta querendo se trancar.
Você pode me escrever uma carta me falando como o seu dia foi estupidamente chato,ou apenas um bilhete me dizendo que num momento assim se lembrou de mim com um sorriso qualquer nos lábios.
Sou uma pessoa constituída de poucas coisas, não são as grandes jóias que me encantam, antes disso os grandes corações e pequenas demonstrações de humanidade.
Estou a léguas de distância de mim mesma, trancada em um lugar que nem eu mesma sei por onde entrar,
onde vai dar,
onde sair.
Só sei que estou aqui é já não sei mais o que fazer de mim.
Peça para eu voltar para a casa, pois eu tenho a necessidade de me reencontrar.
Se for meu amigo não me fale da beleza fisica que posso possuir, me convide para passear num parque onde meus olhos vão poder brincar de observar. Só assim você vai poder ver a verdadeira beleza em mim, aquela de quem guarda nos olhos o encanto pela natureza que possui uma criança.
Convide-me para cantar ou mesmo caminhar pela tarde e vamos conversar sobre qualquer coisa que nos venha a cabeça, de livros a doces, de poemas a cores, de piadas a filosofia, só assim ressuscito a vida que em mim esta querendo se trancar.
Você pode me escrever uma carta me falando como o seu dia foi estupidamente chato,ou apenas um bilhete me dizendo que num momento assim se lembrou de mim com um sorriso qualquer nos lábios.
Sou uma pessoa constituída de poucas coisas, não são as grandes jóias que me encantam, antes disso os grandes corações e pequenas demonstrações de humanidade.
Estou a léguas de distância de mim mesma, trancada em um lugar que nem eu mesma sei por onde entrar,
onde vai dar,
onde sair.
Só sei que estou aqui é já não sei mais o que fazer de mim.
"Porque eu fiquei tão longe."
incômodo
quinta-feira, 30 de julho de 2009
parte
Edson Bueno de Camargo
onde em minha índole.
se esconde o ser feminino
e que me fala esta parte
ainda obscura em mim
tenho aprendido
a ouvir esta voz quase calada
sussurro suave sublime
sob subjugo cruel e impiedoso
de patriarcados e opressões religiosas
mas sinto:
carrego mais da grande mãe
da terra que criou tudo e chama tudo de volta
do que tenho me apercebido
há uma geradora de início de tudo
há uma criadora de mundos
há uma necessidade maternal
sob a pele grossa e dura
de criar a verdade com a palavra
palavra princípio feminino por excelência
pois as coisas se criam assim que nomeadas
a poesia
é a mulher onde está o melhor de mim agora
não sou mais sábio
Edson Bueno de Camargo
minha mãe olha-me a face
veja que os fios de minha barba
imitam o algodão ao Sol
como teus cabelos
agora estou tão velho como tu
e no dia que mais quero os teus braços
sou tão pesado que nem posso me carregar
minha mãe
o tempo passou para nós
e não sou mais sábio que ontem
dos meus dias de herói
só carrego cansaço
da trajetória que sei
só o caminho dos astros no céu
à passagem do zodíaco
mas ainda posso ver o Sol nascer
pelo vidro de meus óculos
esquentar o frio da noite das canelas cansadas
na quenturinha do sentado na soleira da porta da rua
minha mãe posso dividir um sorriso
e te abraçar um abraço amigo
te recontar histórias e cantigas
antes que o dia termine para nós
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Um Poema Indecente
Para que imaginar se posso sentir
Não desejo apenas tua mão na minha
Quero tua mão passeando pelo meu corpo
Conhecendo cada detalhe dos meus caminhos
Esperando sentir tua saliva, teu suor, teu gozo
Sou humana não uma rima
Se exitem linhas minhas para ser conhecidas
Todas elas compõem o meu contorno
Que só espera de tia a virilidade
De quem não teme amar de verdade
Tolas são as meninas que se apaixonam por poetas,
Pois na hora do amor a poesia tem que ser concreta
Ela deve se encaixar entre as suas e as minhas pernas
Não precisando de rimas simples ou palavras de encanto
Apenas dos gemidos seguidos de intenso gozo
Minha poesia é indecente
como a da poetisa que não teme ser mulher,
como do ser humano que nessa vida apenas quer
aproveitar a vida como ela é: SIMPLES.
domingo, 5 de julho de 2009
quero uma mulher que seja
de qual planeta vem estas mulheres das revistas?
são todas belas e inexistentes
quero uma mulher real
que possa pegar a mão
o pé
e todo o resto que é tão bom
quero uma mulher em carne e osso
e pele
muita pele para afagar
quero ser o amante da moça sem graça
que anda na praça
em busca do sonho
quero ser o namorado da motorista do ônibus
o caso secreto da policial e seu batom discreto
da feirante
da mulher da bilheteria do trólebus
da estudante tardia
da professora
quero uma mulher com cheiro de produção
de graxa
de graça
de peixe
de sopa fervendo
de margaridas
de rosas
de criança amamentada
de lagartixas na parede da velha casa
quero uma mulher que chore meus mortos
que me xingue zangada
aos meus deslizes
e que me beije
quando lhe der na telha
em um rasgo de ternura
que tenha um olhar de mar profundo
e de estrelas caindo do céu
quero uma mulher que compre lingeries sensuais no camelô
no segredo das ruas
que vista números grandes
que exiba suas dobras sem medo
que saiba que é gostosa
sem precisar ser a mulher manequim
da propaganda de cerveja
quero uma mulher que tenha o sexo tão quente
e confortável o suficiente
para derreter todas as certezas absolutas
e deitar por terra todas as filosofias dos homens
que seja uma mulher total
que segure minha cabeça com ternura e me esprema em teus seios
que eu possa ser menino em teu colo
que me amarre a cintura com tuas pernas
que não tenha medo do claro
e que ame no escuro só por pura diversão
quero uma mulher para envelhecermos juntos
que seja mãe
irmã e confidente
mas que nunca esqueça de ser minha mulher
e que sou teu homem
que possamos das as mãos no cais
olhando para a lua
contrair núpcias toda vez que acordamos de manhã
quero uma mulher que fique comigo
todo o tempo que esta me amar
e possamos colecionar coisas tolas
que guardamos com o tempo
como o primeiro sorriso de um filho
os primeiros passos de um neto
flores secas
bilhetes de metrô
e cartas com a letra incompreensível
um chumaço de cabelo
um par de óculos imprestáveis
uma lente de aumento
um selo
conchas de praia
bolachas de cerveja do primeiro encontro
e toda uma gama de coisas inúteis
quanto estes meus versos
que pouso no papel agora
quero uma mulher que seja tu agora
e nos séculos dos séculos dos séculos
sábado, 27 de junho de 2009
Eu: Letras
Leticia Brito
Quando a sensação de perda de tempo é maior do que o desejo de não odiar,
como fazer para não transformar o que era um bonito sentimento em puro rancor e menosprezo?
Você me transformou em letras, todas suas, todas sujas. Em nome da sua nobre literatura me transformou na imagem ideal de amada imortal.
Mas que amor foi esse que me destes, um amor doído feito a peste, que mais me feriu do que me fez bem.
Em teu mundo irreal fui poesia, verso, me transformei em flores, criei asas, voei, dei sentido ao teu existir espiritual. Na vida real, mãe do teu filho, mulher dificil, alvo de seus momentos de raiva, pedra que se colocava na porta que lhe mostrava um mundo cheio de atrativos.
COMO EU PODIA SER SEU TUDO, SE SEMPRE ME TRATOU COMO UM NADA?
Sou hoje para ti uma mulher de papel, letras bonitas podem ser vistas nos meus olhos, versos simples formam as partes do meu corpo, meus cabelos são todos feitos com fios da tua mais bonita ortográfia, mais meus lábios já não dizem verbos perfeitos pra ti.
Tens a consciência de que sou letra perdida num espaço tão vasto que jamais irás conseguir alcançar.
O fato é que depois de tanto me usar para fazer poesia, ao fim abandonastes teu caderno, teu oficio de escrever, se entregou ao oficio de ser mais um entre tantos outros mortais.
como fazer para não transformar o que era um bonito sentimento em puro rancor e menosprezo?
Você me transformou em letras, todas suas, todas sujas. Em nome da sua nobre literatura me transformou na imagem ideal de amada imortal.
Mas que amor foi esse que me destes, um amor doído feito a peste, que mais me feriu do que me fez bem.
Em teu mundo irreal fui poesia, verso, me transformei em flores, criei asas, voei, dei sentido ao teu existir espiritual. Na vida real, mãe do teu filho, mulher dificil, alvo de seus momentos de raiva, pedra que se colocava na porta que lhe mostrava um mundo cheio de atrativos.
COMO EU PODIA SER SEU TUDO, SE SEMPRE ME TRATOU COMO UM NADA?
Sou hoje para ti uma mulher de papel, letras bonitas podem ser vistas nos meus olhos, versos simples formam as partes do meu corpo, meus cabelos são todos feitos com fios da tua mais bonita ortográfia, mais meus lábios já não dizem verbos perfeitos pra ti.
Tens a consciência de que sou letra perdida num espaço tão vasto que jamais irás conseguir alcançar.
O fato é que depois de tanto me usar para fazer poesia, ao fim abandonastes teu caderno, teu oficio de escrever, se entregou ao oficio de ser mais um entre tantos outros mortais.
terça-feira, 23 de junho de 2009
Artista
Leticia Brito
Estava finalmente só, mas só do que merecia, tudo a sua volta parecia repleto, tanto que ela conseguia se perder em meio as paredes de seu quarto.
No comodo vazio de sentido e mobilia podiam ser encontrados apenas uma cama, uma cadeira e um espelho que mostrava a ela o infinito. Suas janelas eram trancafiadas, nenhum raio ousava atravessar aquela prisão de madeira, naquela cadeia nem mesmo os sentimentos podiam entrar.
Era uma pedra bruta, trancada dentro de uma mina que fora a muito abandonada. Será que ninguém notou o brilho daquela que podia ser uma bela jóia? Se as pessoas não enxergam nem as flores que nascem na cidade, porque notariam tal presença?
Uma mulher solitária, um ser esquecido, esquisito, indiferente em sua existência, mais com olhos que conseguiam atravessar os infinitos muros das aparências humanas.
- Quando vão me libertar?
- Mas será que eu quero ser liberta.
Comia papel, bebia musica e arrotava poesia. Era artisitcamente linda, por isso fora trancada atrás daquelas grades, para que naquele hospital pisiquiátrico perdesse toda sua humanidade.
O artista sempre irá incomondar, pois ele sempre vai representar o humano que insiste em sonhar.
segunda-feira, 22 de junho de 2009
Rio Claro
Edson Bueno de Camargo
a flor da serralha
amarela meio Sol da tarde
meio gema de ovo cozido
as folhas escalas verdes
flor de todo lugar
e bombardeiros sementes
no vento sem peso
Rio Claro
a massa de ar carrega leve a rua
de braços abertos e olhos fechados
minúsculas ondas na areia
um deserto miniatura na porta da casa velha
abraçados pelo oxigênio do dia
corríamos descalços
como se livres dos sapatos
estivéssemos também da vida
minha avó no fundo da sala
(e seus bordados)
meu avô sentado nos degraus
pitando a palha
depois açúcar cristal de colherinha
com o gosto áspero de primeira infância
o que era simplicidade
para nós era um prêmio
eram verões de dias longos
camisa suada
e céu de aquarela
calças curtas
e canelas esfoladas de subir em jabuticabeiras
grandes bicicletas de aros longos
mal cabíamos de satisfação
perseguíamos o Sol
para que o dia não terminasse
sábado, 20 de junho de 2009
Fragmento,
quinta-feira, 18 de junho de 2009
sangue como tinta
de Edson Bueno de Camargo
assim se usasse sangue como tinta
talvez impressionasse os olhos dos ouvintes
e em grande pompa entraria na arena
onde outros imortais esperam
mas
de que adianta ser sob a sombra do ostracismo
por que fazermos tudo isso
se isso não é aquilo que esperam?
tu esperas dar poesia aos que não tem pão
mas poesia não se come
não cobre o corpo para dormires
mal serve de alento para as dores
e o cansaço do dia
ai daquele que confia sua dor aos outros
mal aventurado o que mente
o que planta sementes em terrenos estéreis
o que busca água nos desertos
o que despreza o mar por ser grandioso
e busca alento nos regatos das montanhas
o poeta e o louco da aldeia tem o mesmo destino
de acreditar que insensatez é verdade
de ter poder de criar mundos com palavras
melhor o palhaço que faz rir
e ri de todos
guardando o choro para o escondido das cortinas
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