sábado, 27 de junho de 2009

Eu: Letras




Leticia Brito


Quando a sensação de perda de tempo é maior do que o desejo de não odiar,
como fazer para não transformar o que era um bonito sentimento em puro rancor e menosprezo?
Você me transformou em letras, todas suas, todas sujas. Em nome da sua nobre literatura me transformou na imagem ideal de amada imortal.
Mas que amor foi esse que me destes, um amor doído feito a peste, que mais me feriu do que me fez bem.
Em teu mundo irreal fui poesia, verso, me transformei em flores, criei asas, voei, dei sentido ao teu existir espiritual. Na vida real, mãe do teu filho, mulher dificil, alvo de seus momentos de raiva, pedra que se colocava na porta que lhe mostrava um mundo cheio de atrativos.

COMO EU PODIA SER SEU TUDO, SE SEMPRE ME TRATOU COMO UM NADA?

Sou hoje para ti uma mulher de papel, letras bonitas podem ser vistas nos meus olhos, versos simples formam as partes do meu corpo, meus cabelos são todos feitos com fios da tua mais bonita ortográfia, mais meus lábios já não dizem verbos perfeitos pra ti.
Tens a consciência de que sou letra perdida num espaço tão vasto que jamais irás conseguir alcançar.
O fato é que depois de tanto me usar para fazer poesia, ao fim abandonastes teu caderno, teu oficio de escrever, se entregou ao oficio de ser mais um entre tantos outros mortais.

Nenhum comentário: