domingo, 27 de novembro de 2011

RECHAÇADO PELA VIDA



Trilhou, sozinho, um caminho por ele mesmo traçado
Valendo-se, apenas, da crença em si mesmo
Vagando por entre o imenso e silencioso vazio existencial
Mergulhado num eu quase invisível
Preso a restos do que poderia ter sido
A segurar um fiapo de esperança no que ocultamente é
Pretencioso calado
Discreta arrogância
Errante, como a vida quis
Pela própria vida, rechaçado
Posto no covil, sem dó
Arrancaram-lhe a razão
Recorreu ao silêncio,
Sem argumentação
Esperou com bravura,
Uma suposta recompensa
Sem desespero
Nem loucura
Sem morte prematura

Arlindo Cirino

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Exercício de criação 36 - walquírias e hierofantes

Este exercício foi pensado para 26 palavras com as letras do alfabeto, fiz uma pequena confusão e fiz um poema com 26 versos, todos começados pelas letras do alfabeto, posteriormente fiz o exercício da forma proposta, como gostei dos dois resultados, estão os dois publicados. 


walquirias xilografadas


abrir bem
cada dádiva elevada
à fome gigante
que habita o interior
dos jarros kamikazes

límpidos
mundanos
narcísicos

oprimem as palavras
que rasgam suturas

tempo ulterior ao vento
ypsilon e zênite.



Exercício de criação 36
http://gambiarraliteraria.blogspot.com/2011/11/exercicio-de-criacao-36.html










hierofantes


aram os campos da morte
barretes vermelhos sorriem
cruzam os dentes afiados
das adagas líquidas do tempo

entranhas da pedra
fractais de luz cristalina
gelo de sílica
hieróglifos do tempo

iniciados esperam os sinais
jactam-se os hierofantes
k é a letra oculta
latente vaticínio

mudam-se as cidades de lugar
naves belicosas fendem o horizonte
oprimem os olhos cansados
perto de rude vitória

quem poderá falar agora
ritos antigos já começaram
sinos por estranhos ritos
tinem em pesado dobrar

uma onda de corvos
viram o céu em noite

warun? pergunta o profeta distante
xistos de estrelas caem em decadência
yin e yang não encontram mais paz
zagaias riscam em aço o firmamento






Exercício de criação 36
http://gambiarraliteraria.blogspot.com/2011/11/exercicio-de-criacao-36.html






Gambiarra Literária

sábado, 4 de dezembro de 2010

O Intelectual

Essa é a história de uma homenzinho ou de uma mulherzinha triste (você decide), um dia alguém que o amava muito, notando sua tristeza lhe disse:
- Gostei do que você escreveu, você é um excelente escritor, parabéns.
Os olhso do homem/mulher brilharam e pela primeira vez ele sorriu, mas ao contrário do que se pensa ele/ela não foi ser feliz. Com o impulso do elogio crescendo em sua mente, decidiu estudar e se aprimorar cada vez mais para sempre ser o melhor, até que chegou ao ponto de acreditar que realmente era o melhro de todos.
Todos os amigos que havia feito no meio literário logo se afastaram dele, pois ele era só critica e desprezo a tudo que não lhe pertencia, era como se o trabalho de todos os que lhe cercavam pudesse ser comparado ao lixo que jogamos todos os dias nas ruas.
Lançou um livro, foi bem falado, lançou seu segundo livro, teve muita publicidade e pouco interesse do publico. Na terceira parou, refletiu, reestruturou e escreveu, mas tudo o que se lia não eram suas idéias, antes um punhado de recortes de textos antigos estudados, todos bem sincronizados como uma bela dissertação. Vendeu um, dois, vários exemplares, virou febre nacional, era o maior intelectual de idéias previamente adquiridas.
No final da sua vida. ao publicar seu Best Seller final de numero 40, ele finalemtne havia conseguido tudo o que queria, era um homem/mulher mais inteligente do país, o mais respeitado do século. Mas no fundo de sua alma a grande questão?

"Como um intectual deve se comportar no meio da festa de pessoas normais?"

Morreu como um cão vádio, na rua, sem nenhuma idéia, sem nenhum livro, acompanhado apenas por uma grande poça de sangue que escorria pelo chão de uma rua qualquer.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Coragenvardia

Paredes,
Janelas,
Luzes acesas ou apagadas.
Sempre a solidão
Do lado direito.
E do esquerdo
A vontade de desistir.

Bruno Vieira

Moderna relação. Silêncio, sufoco e auto tortura

No ultimo segundo
Alguém cedeu
E ninguém foi feliz para sempre.
Cada um continuou
Com a sua verdade escondida,
Uma arma engatilhada,
Coisa que não se guarda em casa
Onde mora quem se quer bem.

No ultimo segundo
Alguém cedeu
E morreu engasgado.
Mas continuou arrastando o cadáver
Da cama para o banheiro.

Bruno Vieira

domingo, 18 de julho de 2010

dragão

S. Jorge (Franceschini, 1718)



Edson Bueno de Camargo

e toda profecia
que lhe saía das mãos
era uma sentença torta
epístolas postas na mesa
sem direito e direção

era festa na aldeia
ou se assemelhava
algo que voava
entre fitas lilases
e milagres de vinho e pão

e todo vento
que me chegava
era embriagado
estopa embebida em vinagre
deuses bentos em oração

e sob luz de candeias e voltas
toda a reza tinha um certo destino
olhares de menina triste
rosas verdes no parapeito
e medo de assombração

naquela noite não dormi direito
São Jorge não era meu amigo ainda
olhava-me firme junto à janela
com o cavalo empinando
e debaixo mais condescendente
com todos os seus dentes
ria de mim o dragão

quarta-feira, 14 de julho de 2010

parafraseando Drummond:




Edson Bueno de Camargo

quando eu nasci
veio um saci
era para ser um anjo
que caiu de bebida na esquina
além de que seria plágio poético
(Carlos Drummond de Andrade teve a idéia primeiro)

o saci usava um velho jeans
e um all star surrado
(cadarço branco de velho punk)
não falava coisa com coisa
devia estar emaconhado brisado
sei lá
até ai
a vida não faz o menor sentido mesmo

vai edson
vai ser poeta na vida
maldisse o saci

fui peão de fábrica
tesoureiro
chefe de repartição
sindicalista
larguei a faculdade

mas fui pelas ruas
a fazer versos tortos
(imitando o Roberto Piva
que era um poeta melhor)

ah! como se pode perder o bonde da vida
se não existem mais bondes
só resta o conhaque no bar da esquina
e olhar o umbigo das moças que passam

olhar para a lua
pensando

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Contrato.





Edson Bueno de Camargo


quando me deram de comer
compraram com isso minh’alma
colocaram no fundo do prato
um contrato sem que me apercebesse

e quanto mais me fartasse
quanto maior a abundante mesa
mais partes de mim se levavam

não me sinto mais eu mesmo
há um vazio que me preenche por dentro
não há tormento,
nem angustia

só um vazio que me permeia a pele
como se esta fosse invisível
como se não fosse mais possível.



Poema publicado no livro "Poemas Do Século Passado-1982-2000", edição de autor, Mauá, SP - 2002  e  Livro da Tribo (Agenda Poética) 2004-2005 – Editora da Tribo – São Paulo-SP.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

conhecer (ou anzol)




Edson Bueno de Camargo




há momentos
que somos escravos
da sede de conhecer

o peixe
morde a morte
mais por curiosidade
que por fome

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Explicação para simples troca de olhares

Eu sorria porque
Era o que eu tinha a dize.
Sobre o teu braço
Enrolado no meu pescoço.
Não existia o despertador no dia seguinte,
Nem contas a pagar.
Só a música da sua respiração
E o cheiro do seu cabelo,
Um cobertor
E um bem estar...