sábado, 4 de dezembro de 2010

O Intelectual

Essa é a história de uma homenzinho ou de uma mulherzinha triste (você decide), um dia alguém que o amava muito, notando sua tristeza lhe disse:
- Gostei do que você escreveu, você é um excelente escritor, parabéns.
Os olhso do homem/mulher brilharam e pela primeira vez ele sorriu, mas ao contrário do que se pensa ele/ela não foi ser feliz. Com o impulso do elogio crescendo em sua mente, decidiu estudar e se aprimorar cada vez mais para sempre ser o melhor, até que chegou ao ponto de acreditar que realmente era o melhro de todos.
Todos os amigos que havia feito no meio literário logo se afastaram dele, pois ele era só critica e desprezo a tudo que não lhe pertencia, era como se o trabalho de todos os que lhe cercavam pudesse ser comparado ao lixo que jogamos todos os dias nas ruas.
Lançou um livro, foi bem falado, lançou seu segundo livro, teve muita publicidade e pouco interesse do publico. Na terceira parou, refletiu, reestruturou e escreveu, mas tudo o que se lia não eram suas idéias, antes um punhado de recortes de textos antigos estudados, todos bem sincronizados como uma bela dissertação. Vendeu um, dois, vários exemplares, virou febre nacional, era o maior intelectual de idéias previamente adquiridas.
No final da sua vida. ao publicar seu Best Seller final de numero 40, ele finalemtne havia conseguido tudo o que queria, era um homem/mulher mais inteligente do país, o mais respeitado do século. Mas no fundo de sua alma a grande questão?

"Como um intectual deve se comportar no meio da festa de pessoas normais?"

Morreu como um cão vádio, na rua, sem nenhuma idéia, sem nenhum livro, acompanhado apenas por uma grande poça de sangue que escorria pelo chão de uma rua qualquer.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Coragenvardia

Paredes,
Janelas,
Luzes acesas ou apagadas.
Sempre a solidão
Do lado direito.
E do esquerdo
A vontade de desistir.

Bruno Vieira

Moderna relação. Silêncio, sufoco e auto tortura

No ultimo segundo
Alguém cedeu
E ninguém foi feliz para sempre.
Cada um continuou
Com a sua verdade escondida,
Uma arma engatilhada,
Coisa que não se guarda em casa
Onde mora quem se quer bem.

No ultimo segundo
Alguém cedeu
E morreu engasgado.
Mas continuou arrastando o cadáver
Da cama para o banheiro.

Bruno Vieira

domingo, 18 de julho de 2010

dragão

S. Jorge (Franceschini, 1718)



Edson Bueno de Camargo

e toda profecia
que lhe saía das mãos
era uma sentença torta
epístolas postas na mesa
sem direito e direção

era festa na aldeia
ou se assemelhava
algo que voava
entre fitas lilases
e milagres de vinho e pão

e todo vento
que me chegava
era embriagado
estopa embebida em vinagre
deuses bentos em oração

e sob luz de candeias e voltas
toda a reza tinha um certo destino
olhares de menina triste
rosas verdes no parapeito
e medo de assombração

naquela noite não dormi direito
São Jorge não era meu amigo ainda
olhava-me firme junto à janela
com o cavalo empinando
e debaixo mais condescendente
com todos os seus dentes
ria de mim o dragão

quarta-feira, 14 de julho de 2010

parafraseando Drummond:




Edson Bueno de Camargo

quando eu nasci
veio um saci
era para ser um anjo
que caiu de bebida na esquina
além de que seria plágio poético
(Carlos Drummond de Andrade teve a idéia primeiro)

o saci usava um velho jeans
e um all star surrado
(cadarço branco de velho punk)
não falava coisa com coisa
devia estar emaconhado brisado
sei lá
até ai
a vida não faz o menor sentido mesmo

vai edson
vai ser poeta na vida
maldisse o saci

fui peão de fábrica
tesoureiro
chefe de repartição
sindicalista
larguei a faculdade

mas fui pelas ruas
a fazer versos tortos
(imitando o Roberto Piva
que era um poeta melhor)

ah! como se pode perder o bonde da vida
se não existem mais bondes
só resta o conhaque no bar da esquina
e olhar o umbigo das moças que passam

olhar para a lua
pensando

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Contrato.





Edson Bueno de Camargo


quando me deram de comer
compraram com isso minh’alma
colocaram no fundo do prato
um contrato sem que me apercebesse

e quanto mais me fartasse
quanto maior a abundante mesa
mais partes de mim se levavam

não me sinto mais eu mesmo
há um vazio que me preenche por dentro
não há tormento,
nem angustia

só um vazio que me permeia a pele
como se esta fosse invisível
como se não fosse mais possível.



Poema publicado no livro "Poemas Do Século Passado-1982-2000", edição de autor, Mauá, SP - 2002  e  Livro da Tribo (Agenda Poética) 2004-2005 – Editora da Tribo – São Paulo-SP.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

conhecer (ou anzol)




Edson Bueno de Camargo




há momentos
que somos escravos
da sede de conhecer

o peixe
morde a morte
mais por curiosidade
que por fome

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Explicação para simples troca de olhares

Eu sorria porque
Era o que eu tinha a dize.
Sobre o teu braço
Enrolado no meu pescoço.
Não existia o despertador no dia seguinte,
Nem contas a pagar.
Só a música da sua respiração
E o cheiro do seu cabelo,
Um cobertor
E um bem estar...

terça-feira, 11 de maio de 2010

"sonho com serpentes"

M. C. Escher


Edson Bueno de Camargo

“Sueño con serpientes, con serpientes de mar,
con cierto mar, ay, de serpientes sueño yo.”
(Silvio Rodríguez)


que se envolvem entre si
em carne viva
em exposição
em expiação sangrenta

ninho coleante
e viscoso
gangrena dos ossos
vulcão orgânico e pestilento
de ovos
de larvas
de morte lenta adiada

tenho muitos olhos
tenho muitas bocas
e muitas línguas todas bífidas
o cheiro do medo buscam

sonho que estou vivo
(quando morto)
e andando
não caminho um metro sequer
sufoco em líquido
e meus movimentos são pulmões afogados
me afundam na areia movediça
nada me conduz
sob este céu insano

falo o som das escamas
dos estalidos de pequenos ossos
e palavras
com o fogo feroz
dos olhos animais acuados
fogos fátuos
e versos metálicos da palavra réptil

“sonho com serpentes”
e estas me devoram os olhos

segunda-feira, 8 de março de 2010

Blogagem Coletiva '100 anos do Dia Internacional da Mulher - Celebrar o quê?'



Blogagem Coletiva '100 anos do Dia Internacional da Mulher - Celebrar o quê?'

domingo, 7 de março de 2010

A idade da Sedução

Leticia Brito

"Seu cheiro de fruta madura adoça meu paladar
Sua pele firme e segura aguça meus desejos
Perto de ti sou apenas uma criança, um brinquedo para se observar
Daria toda minha vitalidade para poder, por um segundo te tocar.
Teus olhos são da cor do desejo, profundos preenchem o vazio da minha alma solitaria,
que deseja numa noite serena e calma, descobrir a força que guardas nos teus braços,
desvendar os prazeres que se escondem entre suas pernas.
Queria te entregar minha virilidade, juventude e vitalidade,
ver em teus olhos a faisca do desejo por meu corpo.
Mais teu corpo se afasta do meu, teus olhos não desejam desvendar o meu olhar,
Para ti não passo de uma bela paisagem que de longe não te atrai,
mas que apenas mostra como o tempo passou
Quem me dera alcançar tanto tempo de sedução, para poder, com afeto, tocar seu coração".


Sorrindo, ela guardou aquela pequena declaração enrolada em suas mãos, olhou para o jovem que observava seus movimentos, lhe deu um doce beijo e em seguida falou:
- Guarde com você essas palavras, espere cinco anos e as releia. Se, ainda sim, alguma verdade existir nelas, me procure, pois estarei ansiosa esperando pelo seu amor.
Enquanto ele ia embora segurando o papel e sorrindo ela olhou para o horizonte e pensou:
- Como é bom saber o caminho que eu quero seguir.
Se olhou no espelho, viu mais uma vez o que sempre admirou em seu rosto, o olhar penetrante e determinado de quem sabia que não basta a fantasia para viver bem a vida, é preciso saber onde se quer chegar para no caminho poder encontrar os braços quentes de um verdadeiro amor.

quinta-feira, 4 de março de 2010

teu colo




Edson Bueno de Camargo


livre
liso
e luzidio
esguio sob a luz da lua

teu colo
é cavalo árabe
nunca domado

Blogagem Coletiva '100 anos de Dia Internacional da Mulher - Celebrar o quê?'

Blogagem Coletiva '100 anos de Dia Internacional da Mulher - Celebrar o quê?'

Em 2010, a comemoração do 8 de março como Dia da Mulher completa cem anos. Para celebrar essa data, que este ano é duplamente especial, convidamos a todas/os para participar da blogagem coletiva organizada pelo Alma Rubra.

O tema é: "100 anos de Dia Internacional da Mulher: celebrar o quê?". A proposta é discutir o que aconteceu no dia a dia das mulheres em 100 anos de lutas e conquistas.

Para participar, comente neste post colocando o nome e endereço do seu blog, leve o selo e poste um texto sobre o tema no seu blog no dia 8 de março.

Participe!







Mais informações sobre os 100 anos do Dia da Mulher, indicamos o "Dia Internacional da Mulher: em busca da memória perdida" AQUI

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

na origem os pés

"Foto de uma das pegadas de 1,5 milhão de anos descobertas no Quênia."


Edson Bueno de Camargo


para Antônio Jorge Valério



na origem
os pés pisaram 
este chão de basalto cristalino

planalto de pó e de origens
de plantas planares
em argila de ocre vermelho
dos ventres pungentes
que ainda gerarão a humanidade
(e de novo
e de novo)

somos todos africanos 
em nossa origem humana
todos exilados do terreno
da pátria primeira

foram os pés de nossos antepassados
fincados na terra
que nos trouxeram aqui

domingo, 17 de janeiro de 2010

O Enigmático

Quando a esperança já não mais se fazia sentir,
Surgiu
Com brilho e estranheza
Revelando-se a si mesmo
Instintos despertando – libido e fúria
Um bruxo, eu diria.
Indiferente
Angelical e demoníaco
Indecifrável
Provando o improvável,
Sem nada querer provar
Perturbando as mais sisudas almas
Libertando reprimidas fantasias
Horror dos puritanos
Deus da indecência
Adorável e repulsivo

Arlindo Cirino

domingo, 3 de janeiro de 2010

casa dos mortos




Edson Bueno de Camargo

lendo José Carlos Mendes Brandão



a pedra canta o hino dos mortos
e de minha tíbia
faz uma flauta

o poeta encantou os meus dedos
pendurei um osso na orelha

a poesia agora sussurra
como a chuva

cortes selvagens

Edson Bueno de Camargo

carregar um cometa à boca
entre-dentes estrelas
e cortes selvagens na saliva

toda a palavra contém sangue
de dureza de diamantes negros
pedras profusas da dor

eis a tristeza de dias claros
com bilhas de água
logo à porta

(mata a sede dos) viajantes
percorrem às sombras silenciosas
da noite

hoje amanheci
com uma margarida
plantada no peito

suas raízes frágeis
se estendem por veias
e poças de coágulos

uma flor com o peso de um planeta
com pétalas rindo
como dentes ao sol

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Sonho escatológico

Acordei-me subitamente a cuspir com tamanho nojo que me causava o gosto amargo de fina merda.
Merda dada na colher como se sopa fosse.
Tal façanha me fizeste uma louca dona, que, ao sentir-se ofendida depois de ter-lhe eu socado um dos dedos cu a dentro, causando-lhe um pequeno corte, sacou da colher como se fosse essa uma arma, e cravou-me, impiedosamente, na boca, a indigesta substância intestinal.

Arlindo Cirino

Cultura local

Batido e rebatido
Surrado
Ruminado
Cagado e degustado
Pisado e repisado,
Em fino pó o resultado
Pó entorpecente,
Que paralisa a mente
Mente atrofiada
Mente acomodada

Do lixo come,
Mas nem sabe do que tem fome
A cegueira da burrice
Que limita o imaginário
Que cultua a exaustiva repetição
O eterno mais do mesmo,
Que exaure o cérebro e o coração

Arlindo Cirino