domingo, 17 de janeiro de 2010

O Enigmático

Quando a esperança já não mais se fazia sentir,
Surgiu
Com brilho e estranheza
Revelando-se a si mesmo
Instintos despertando – libido e fúria
Um bruxo, eu diria.
Indiferente
Angelical e demoníaco
Indecifrável
Provando o improvável,
Sem nada querer provar
Perturbando as mais sisudas almas
Libertando reprimidas fantasias
Horror dos puritanos
Deus da indecência
Adorável e repulsivo

Arlindo Cirino

domingo, 3 de janeiro de 2010

casa dos mortos




Edson Bueno de Camargo

lendo José Carlos Mendes Brandão



a pedra canta o hino dos mortos
e de minha tíbia
faz uma flauta

o poeta encantou os meus dedos
pendurei um osso na orelha

a poesia agora sussurra
como a chuva

cortes selvagens

Edson Bueno de Camargo

carregar um cometa à boca
entre-dentes estrelas
e cortes selvagens na saliva

toda a palavra contém sangue
de dureza de diamantes negros
pedras profusas da dor

eis a tristeza de dias claros
com bilhas de água
logo à porta

(mata a sede dos) viajantes
percorrem às sombras silenciosas
da noite

hoje amanheci
com uma margarida
plantada no peito

suas raízes frágeis
se estendem por veias
e poças de coágulos

uma flor com o peso de um planeta
com pétalas rindo
como dentes ao sol

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Sonho escatológico

Acordei-me subitamente a cuspir com tamanho nojo que me causava o gosto amargo de fina merda.
Merda dada na colher como se sopa fosse.
Tal façanha me fizeste uma louca dona, que, ao sentir-se ofendida depois de ter-lhe eu socado um dos dedos cu a dentro, causando-lhe um pequeno corte, sacou da colher como se fosse essa uma arma, e cravou-me, impiedosamente, na boca, a indigesta substância intestinal.

Arlindo Cirino

Cultura local

Batido e rebatido
Surrado
Ruminado
Cagado e degustado
Pisado e repisado,
Em fino pó o resultado
Pó entorpecente,
Que paralisa a mente
Mente atrofiada
Mente acomodada

Do lixo come,
Mas nem sabe do que tem fome
A cegueira da burrice
Que limita o imaginário
Que cultua a exaustiva repetição
O eterno mais do mesmo,
Que exaure o cérebro e o coração

Arlindo Cirino