de Edson Bueno de Camargo
de qual planeta vem estas mulheres das revistas?
são todas belas e inexistentes
quero uma mulher real
que possa pegar a mão
o pé
e todo o resto que é tão bom
quero uma mulher em carne e osso
e pele
muita pele para afagar
quero ser o amante da moça sem graça
que anda na praça
em busca do sonho
quero ser o namorado da motorista do ônibus
o caso secreto da policial e seu batom discreto
da feirante
da mulher da bilheteria do trólebus
da estudante tardia
da professora
quero uma mulher com cheiro de produção
de graxa
de graça
de peixe
de sopa fervendo
de margaridas
de rosas
de criança amamentada
de lagartixas na parede da velha casa
quero uma mulher que chore meus mortos
que me xingue zangada
aos meus deslizes
e que me beije
quando lhe der na telha
em um rasgo de ternura
que tenha um olhar de mar profundo
e de estrelas caindo do céu
quero uma mulher que compre lingeries sensuais no camelô
no segredo das ruas
que vista números grandes
que exiba suas dobras sem medo
que saiba que é gostosa
sem precisar ser a mulher manequim
da propaganda de cerveja
quero uma mulher que tenha o sexo tão quente
e confortável o suficiente
para derreter todas as certezas absolutas
e deitar por terra todas as filosofias dos homens
que seja uma mulher total
que segure minha cabeça com ternura e me esprema em teus seios
que eu possa ser menino em teu colo
que me amarre a cintura com tuas pernas
que não tenha medo do claro
e que ame no escuro só por pura diversão
quero uma mulher para envelhecermos juntos
que seja mãe
irmã e confidente
mas que nunca esqueça de ser minha mulher
e que sou teu homem
que possamos das as mãos no cais
olhando para a lua
contrair núpcias toda vez que acordamos de manhã
quero uma mulher que fique comigo
todo o tempo que esta me amar
e possamos colecionar coisas tolas
que guardamos com o tempo
como o primeiro sorriso de um filho
os primeiros passos de um neto
flores secas
bilhetes de metrô
e cartas com a letra incompreensível
um chumaço de cabelo
um par de óculos imprestáveis
uma lente de aumento
um selo
conchas de praia
bolachas de cerveja do primeiro encontro
e toda uma gama de coisas inúteis
quanto estes meus versos
que pouso no papel agora
quero uma mulher que seja tu agora
e nos séculos dos séculos dos séculos