quinta-feira, 30 de julho de 2009

parte


Edson Bueno de Camargo

onde em minha índole.
se esconde o ser feminino
e que me fala esta parte
ainda obscura em mim

tenho aprendido
a ouvir esta voz quase calada
sussurro suave sublime
sob subjugo cruel e impiedoso
de patriarcados e opressões religiosas

mas sinto:
carrego mais da grande mãe
da terra que criou tudo e chama tudo de volta
do que tenho me apercebido

há uma geradora de início de tudo
há uma criadora de mundos
há uma necessidade maternal
sob a pele grossa e dura
de criar a verdade com a palavra
palavra princípio feminino por excelência
pois as coisas se criam assim que nomeadas

a poesia
é a mulher onde está o melhor de mim agora

não sou mais sábio



Edson Bueno de Camargo


minha mãe olha-me a face
veja que os fios de minha barba
imitam o algodão ao Sol
como teus cabelos

agora estou tão velho como tu
e no dia que mais quero os teus braços
sou tão pesado que nem posso me carregar

minha mãe
o tempo passou para nós
e não sou mais sábio que ontem
dos meus dias de herói
só carrego cansaço
da trajetória que sei
só o caminho dos astros no céu
à passagem do zodíaco

mas ainda posso ver o Sol nascer
pelo vidro de meus óculos
esquentar o frio da noite das canelas cansadas
na quenturinha do sentado na soleira da porta da rua

minha mãe posso dividir um sorriso
e te abraçar um abraço amigo
te recontar histórias e cantigas
antes que o dia termine para nós

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Um Poema Indecente




Para que imaginar se posso sentir
Não desejo apenas tua mão na minha
Quero tua mão passeando pelo meu corpo
Conhecendo cada detalhe dos meus caminhos
Esperando sentir tua saliva, teu suor, teu gozo

Sou humana não uma rima
Se exitem linhas minhas para ser conhecidas
Todas elas compõem o meu contorno
Que só espera de tia a virilidade
De quem não teme amar de verdade

Tolas são as meninas que se apaixonam por poetas,
Pois na hora do amor a poesia tem que ser concreta
Ela deve se encaixar entre as suas e as minhas pernas
Não precisando de rimas simples ou palavras de encanto
Apenas dos gemidos seguidos de intenso gozo

Minha poesia é indecente
como a da poetisa que não teme ser mulher,
como do ser humano que nessa vida apenas quer
aproveitar a vida como ela é: SIMPLES.

domingo, 5 de julho de 2009

quero uma mulher que seja


de Edson Bueno de Camargo






de qual planeta vem estas mulheres das revistas?
são todas belas e inexistentes
quero uma mulher real
que possa pegar a mão
o pé
e todo o resto que é tão bom
quero uma mulher em carne e osso
e pele
muita pele para afagar

quero ser o amante da moça sem graça
que anda na praça
em busca do sonho
quero ser o namorado da motorista do ônibus
o caso secreto da policial e seu batom discreto
da feirante
da mulher da bilheteria do trólebus
da estudante tardia
da professora

quero uma mulher com cheiro de produção
de graxa
de graça
de peixe
de sopa fervendo
de margaridas
de rosas
de criança amamentada
de lagartixas na parede da velha casa

quero uma mulher que chore meus mortos
que me xingue zangada
aos meus deslizes
e que me beije
quando lhe der na telha
em um rasgo de ternura
que tenha um olhar de mar profundo
e de estrelas caindo do céu

quero uma mulher que compre lingeries sensuais no camelô
no segredo das ruas
que vista números grandes
que exiba suas dobras sem medo
que saiba que é gostosa
sem precisar ser a mulher manequim
da propaganda de cerveja

quero uma mulher que tenha o sexo tão quente
e confortável o suficiente
para derreter todas as certezas absolutas
e deitar por terra todas as filosofias dos homens
que seja uma mulher total
que segure minha cabeça com ternura e me esprema em teus seios
que eu possa ser menino em teu colo
que me amarre a cintura com tuas pernas
que não tenha medo do claro
e que ame no escuro só por pura diversão

quero uma mulher para envelhecermos juntos
que seja mãe
irmã e confidente
mas que nunca esqueça de ser minha mulher
e que sou teu homem

que possamos das as mãos no cais
olhando para a lua
contrair núpcias toda vez que acordamos de manhã

quero uma mulher que fique comigo
todo o tempo que esta me amar
e possamos colecionar coisas tolas
que guardamos com o tempo
como o primeiro sorriso de um filho
os primeiros passos de um neto
flores secas
bilhetes de metrô
e cartas com a letra incompreensível
um chumaço de cabelo
um par de óculos imprestáveis
uma lente de aumento
um selo
conchas de praia
bolachas de cerveja do primeiro encontro
e toda uma gama de coisas inúteis
quanto estes meus versos
que pouso no papel agora

quero uma mulher que seja tu agora
e nos séculos dos séculos dos séculos